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mil e uma pequenas histórias
29.3.03
 
Como fazer aforismos: uma receita (à Helena)

De um dicionário de Língua Portuguesa qualquer retire uma mancheia de palavras, por exemplo: azul, cadeira, descansar, poeta. Coloque-as num copo misturador, junte uma pitada de sintaxe e outras coisas que tais. Agite até ficar tudo muito bem misturado. No final, deite o preparado com muito cuidado numa folha de papel branco. Está pronto, por exemplo: a cadeira do poeta descansa no azul. Se não lhe agradar, pode sempre repetir a operação, juntando ou não mais palavras. Serve-se a frio, a qualquer hora do dia e em qualquer ocasião. É ideal para impressionar os amigos. Deve beber-se de um trago.
 
28.3.03
 
Uma palavra (ao Francisco José Viegas)

Houve em tempos uma palavra, uma palavra muito perigosa. As palavras podem ser perigosas, todos o sabemos, mas aquela foi a mais perigosa de todas. Quando era pronunciada, e era-o com extraordinária frequência e facilidade, a dor e o horror aconteciam, sempre em grande escala, e o Mundo ficava pior, muito pior. Mas isso foi há muito tempo, há tanto tempo que só eu recordo que a palavra existiu e, felizmente, já nem eu a consigo pronunciar. [A moral desta história é tão esperançosa quanto ela. As palavras só nomeiam o que existe, o que não for nomeado não existe.]
 
27.3.03
 
O homem que não sabia mentir (ao Paulo)

Era uma vez um homem que não sabia mentir, mas isso não quer dizer que falasse sempre verdade, era apenas honesto, o que já era em si mesmo uma grande virtude. De todos os lados chegavam visitantes sem parar. Perguntavam-lhe muitas coisas e ele a tudo respondia sem mentir. É claro que às vezes dizia grandes disparates, mas a maior parte do tempo respondia que não sabia, pois sabia muito pouco e tinha muito pouco para dizer. As pessoas gostavam de o ouvir, dava-lhes um certo sentido da realidade, mas depressa se cansavam. Um homem que só diz o que sabe pode ser muito aborrecido. [A moral desta história é tão antiga como ela. Não fales quando podes estar calado, não estejas calado quando podes falar; só desta maneira conseguirás nunca aborrecer ninguém de morte.]
 
25.3.03
 
O que é? (ao Dennis)

Começou por se perguntar pelo sentido da vida, mas recordou-se de ser “o que é?” a primeira pergunta da filosofia, e disse então: O que é a vida? Mas não era uma pergunta, como veio a descobrir mais tarde, e sim uma interrogação, um espanto sem resposta. A vida está aí, acabou por exclamar, a vida está aí para ser vivida! A partir desse momento limitou-se a viver, e obteve todas as respostas de que precisava. [E a moral desta história só pode ser uma: se queres respostas porque é que fazes perguntas? Pergunta isso a ti mesmo e verás!]
 
 
Uma história louca (ao Avery)

Um dia, quando andava pela sala, o gato, ensimesmado, caiu. Saltou imediatamente para o candeeiro e deitou o morcego ao chão. Então, correu porta fora para o quarto e vislumbrou o rato numa escrivaninha. Ainda conseguiu entornar um copo de gin tónico que se encontrava na mesinha de café. Depois de 1001 minutos de entusiasmada perseguição pela casa toda, finalmente consegui agarrá-lo e pô-lo na rua. Trepou então rapidamente para a história. [A moral desta história é: até numa história louca pode existir muita sabedoria.]
 
24.3.03
 
Mais é mais

Acordou para mais um dia, desanimado, e tudo o que queria era não viver. Ergueu-se e, pouco a pouco, despertou finalmente, animado: tudo o que mais queria era morrer noutro dia. A moral desta história é tão pequena como ela, mais é mais, ainda que às vezes seja de mais.
 
 
outra [20/03] e mais outra
 
 
mais do mesmo
 
22.3.03
 
mais uma

Tempos houve em que Deus e o Diabo eram bons amigos, viviam juntos e tudo partilhavam, até o Bem e o Mal. Mas chegou um dia em que se zangaram e decidiram tudo dividir, até os homens. Deus ficou com os vivos e o Diabo com os mortos. Diz-se que foi a partir dessa altura que os homens, confusos e desconfiados, criaram o Céu e o Inferno, e esqueceram-se de viver e morrer como sempre tinham feito. Deus e o Diabo ainda se visitam e falam do passado com nostalgia, mas habituaram-se a viver separados, cada um no seu reino.
 
21.3.03
 
mais uma (à Paz)

Dona Morte estava sentada, muito tranquila, a beber chá verde e a ver a sua novela preferida, mas as últimas notícias em directo invadiram novamente o ecrã sem dar cá aquela palha. Há dois dias que era sempre assim e não havia nada a fazer. Ou talvez houvesse! Levantou-se e saiu de casa com um sorriso matreiro. Do clube de vídeo mais próximo trouxe, mais uma vez, o seu filme preferido: E tudo o vento levou. É sabido que Dona Morte teve sempre um fraquinho pelo Clark Gable, chegando a afirmar que ele teria dado um excelente Presidente dos EUA
 
14.3.03
 
(a seguir...)
 
6.3.03
 
AOS QUE CHEGARAM ATÉ AQUI

Cento e oitenta e duas histórias depois, sinto que chegou a altura de contar a história deste blog. É mais uma história, talvez a última que aqui afixo, ou apenas outra antes de continuar, não sei, muitas vezes só é possível seguir se contarmos a história do que foi.

Custa-me a acreditar que sejamos quem fomos; somos quem somos a cada momento, mas a história de quem fomos tem muitas vezes de ser contada para que possamos verdadeiramente ser quem somos.

As pequenas histórias que aqui podem ser lidas contam elas mesmas a história deste sítio, e fazem-no muito melhor do que eu alguma vez poderei, mas existem outras histórias por trás destas que eu mesmo quero contar.

A primeira história foi afixada no dia de vinte de Agosto de 2002, portanto a data oficial do nascimento do Mil e Uma Pequenas Histórias. A essa história devia seguir-se mais uma... e mais uma... até fossem mil e uma. Não são, neste momento, mil e uma, mas são muitas, são cento e oitenta e duas pequenas histórias.

Se o Mil e Uma tem a sua história, também as pequenas histórias têm a sua, e talvez eu deva começar por dar breves indicações da sua genealogia. No início eram quatro ou cinco, escritas de encomenda com cem palavras cada. Estas histórias perderam-se, mas nunca as esqueci. Depois, anos mais tarde, surgiram trinta pequenas histórias que alcunhei de proveito e de exemplo e a que se juntou mais uma passando a ser trinta e uma. Algumas delas foram publicadas primeiro mas todas vieram depois a ser afixadas aqui.

A primeira ideia era simples e resumia-se a ir somando sempre uma história, afixada na maior parte dos casos na data em que era escrita. Percebi pouco a pouco que estava a escrever um diário, pois se cada história estava datada, e sempre que escrevemos falamos de nós, estas histórias falam sem dúvida do que por esses dias senti, pensei, li, do que vivi afinal. Essa percepção foi tão importante para mim que passei a descrever este blog como um diário mínimo, um diário de pequenas histórias.

A história destas histórias e deste blog é também a história da minha viagem pelo universo dos blogs e do que por aí fui aprendendo. Este será sempre o meu primeiro blog.

O Mil e Uma foi-se transformando à medida que o meu conhecimento da tecnologia aumentou, pouco, muito pouco, mas o suficiente para, entre outras coisas, o abrir cada vez mais ao exterior.

Ainda que não volte a afixar aqui mais uma história, acredito que este blog não está morto, cada visitante será um novo fôlego, quer deixe ou não sinais da sua passagem. A propósito, agradeço mais uma vez a todos aqueles que de uma forma ou outra fizeram ecoar o Mil e Uma.

Confesso que gostava de ver aqui mil e uma histórias e até ponderei se não seria boa ideia abrir este blog apelando à participação de todos para que esse desejo se tornasse realidade.

Esta história já vai longa de mais para um blog que se diz de pequenas histórias. E se o blog vai continuar, não sei, essa é uma história que não pode ser contada agora. Até lá...
 
 
182.

A idd hj n é prob, teclou o pai para espanto do filho :-P

181.

Ela pediu-lhe + + +, e ele tentou corresponder, 2x 3x 4x, até que desistiu.

180.

1:2 é ½ caminho andado para 1 problema, disse o homem, e comeu o bolo em apenas 2 dentadas.


179.

Às 10 horas em ponto guardou uma 9ela e um bisc8 numa 6.ª e partiu para a 5.ª, aí fechou-se num 4.º e esperou: 3-2-1-0-Fim.
 
2.3.03
 
178.

Foi sempre um homem mo10to e 10temido, 10ta maneira nunca se deixou 10truir e chegou = a si mesmo aos 40.
 



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... a ficção no seu mínimo...

Luís Ene

©2002/5

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