<$BlogRSDURL$>
mil e uma pequenas histórias
28.2.05
 

805 (sms)

Não havia mais nada para falar, mas ele ainda queria dizer alguma coisa, e disse. Mais valia ter ficado calado, pensou depois, mas a verdade é que tanto fazia.
 
25.2.05
 

804 (sms)

Ficou ali, lamentando-se do que lhe acontecera, e muito tempo depois ainda ali estava, que é o que acontece a quem se lamenta demais.
 
 

803 (sms)

“O que essa mulher me fiz sofrer!”, exclamou ele, e não era um erro gramatical mas uma honesta tentativa de dizer a verdade.
 
24.2.05
 

802 (sms)

O que se pode dizer com meia dúzia de palavras? Muito, mesmo muito, muito mais do que se imagina. Basta calar bem fundo em nós a arrogância de tudo explicar.
 
23.2.05
 

801 (sms)

Pela manhã reviu a sua vida, pesando causas e consequências. Foi então que um pensamento fugaz lhe despertou um sorriso que o iluminou todo o dia.
 
22.2.05
 

800

Mudou-se a si mesmo mas a sua vida não se alterou. Mudou de vida, mas permaneceu o mesmo. Só então percebeu que já era quem queria, e nada precisava fazer a não ser manter-se assim.
 
21.2.05
 

799

Viu-a numa fotografia e apaixonou-se de imediato por ela. Nunca teve quaisquer dúvidas sobre os seus sentimentos, de cada vez que a olhava tinha sempre a certeza. Não a procurou, e poderia tê-lo feito, mas nunca deixou de a amar.
 
 

798

A mão escreveu na folha em branco uma frase simples, bela e penetrante. O homem, apanhado de surpresa, olhou para o lado e fez de conta que não era nada consigo. A mão agarrou a folha, amachucou-a e deitou-a no caixote do lixo. O homem olhou a folha em branco à sua frente e suspirou.
 
20.2.05
 

797

Porque queria parecer mais magro, certo homem passou a andar na companhia de gordos. E porque queria parecer mais inteligente, passou a andar na companhia de idiotas. Verdade seja dita as coisas não lhe correram bem: os gordos achavam-no idiota, e os idiotas achavam-no gordo.
 
18.2.05
 

796 (sms)

Isso é outra história, disse ela, e tinha toda a razão, mas para ele era apenas um novo capítulo. É preciso dizer mais?
 
 

795

Foi-se embora numa sexta-feira, diz sempre que lhe perguntam por ele. E nada mais diz, por muito que insistam. Cada história tem o seu ponto final, ela sabe muito bem que assim é. Eu também.
 
17.2.05
 

794 (sms)

Nunca se arrependeu de nada: fez sempre o melhor que podia. [Que a terra lhe seja leve.]
 
16.2.05
 

793

Um certo palavrão, que não vou aqui nomear, achava-se muito importante, tão importante que nunca perdia uma oportunidade de o afirmar. A princípio limitava-se a dizer que era seguramente a palavra mais usada, o que talvez até fosse verdade, vá-se lá saber, mas com o tempo refinou a sua argumentação, chegando mesmo a garantir que só através dele se podia expressar o indizível. Não fosse eu saber muito bem o que quero dizer e talvez agora o chamasse pelo nome.
 
15.2.05
 

792 (sms)

Certo dia perdeu o medo de existir que há muito o dominava. Procurou-o com afã, durante muito tempo, e teve sorte: nunca o conseguiu encontrar.
 
14.2.05
 

791 (sms)

Entrou um e saiu outro. Nada mais vulgar.
 
12.2.05
 

790 (sms)

A um homem que desejava ser feliz foi-lhe aconselhado que sorrisse sempre, o que ele fez, e tanto sorriu que se habituou.
 
 

789

"Não escrevo para ser lido, escrevo para que possa ser lido", disse o escritor, olhando o jornalista por cima dos óculos.
"Mas afinal quer ou não ser lido?", insistiu o jornalista, com um sorriso que acentuava a ironia da pergunta.
"Preocupo-me muito mais com as minhas acções do que com a merda dos resultados", respondeu o escritor cruzando os braços. E nada mais disse. Na verdade essa foi a sua última entrevista, ainda hoje citada e lembrada com muita frequência.

 
11.2.05
 

788

Encontraram-se ao princípio da noite num quarto de hotel. Quando ela chegou ele estava deitado na cama, todo vestido, os olhos fechados de sono. Deitou-se ao seu lado e adormeceu também. Quando acordaram há muito era hora de irem embora. Sorriram, trocaram beijos apressados e saíram. Ainda hoje, muitos anos depois, recordam esse dia com uma ternura muito especial.
 
10.2.05
 

787 De repente sentiu-se só, profundamente só, e essa sensação avassaladora dominou-o por completo. Depois sorriu, passou a mão pelo cabelo curto, e recordou a si mesmo que estava completamente só. Não era caso para alarme.

 
9.2.05
 

786 (sms) “O que faço à minha vida?”, repetia a si mesmo sem cessar dia após dia. E enquanto assim agia a vida fazia dele o que muito bem queria.

 
6.2.05
 


785 (sms) Morreu várias vezes ao longo da vida, e de nenhuma se arrependeu. Queria, acima de tudo, viver com intensidade.

 
3.2.05
 

784

Há muitos anos que não perguntava a si mesmo por que escrevia, no entanto essa pergunta não estava morta nele, acontecia apenas que a sua escrita dava todos os dias resposta a essa velha pergunta.

 



***
... a ficção no seu mínimo...

Luís Ene

©2002/5

***
Faça-se ouvir:
envie-me um e-mail
deixe a sua opinião

***
em papel


clique para comprar

***
uma entrevista

uma crítica
***
"(...) desejaria reunir uma colecção de contos de uma única frase, ou de uma só linha, se possível."
Italo Calvino - seis propostas para o próximo milénio
***

histórias por tema

* ler e escrever *
* o zen à janela *
* o amor é o que é *
* da brevidade *
* fabulário *
* viva a morte *

***

todas as histórias
08.2002 / 09.2002 / 10.2002 / 11.2002 / 12.2002 / 01.2003 / 02.2003 / 03.2003 / 04.2003 / 05.2003 / 06.2003 / 07.2003 / 08.2003 / 09.2003 / 10.2003 / 11.2003 / 12.2003 / 01.2004 / 02.2004 / 03.2004 / 04.2004 / 05.2004 / 06.2004 / 07.2004 / 08.2004 / 09.2004 / 10.2004 / 11.2004 / 12.2004 / 01.2005 / 02.2005 / 03.2005 / 04.2005 / 05.2005 / 06.2005 / 07.2005 /

***
utilidades

língua portuguesa

literatura portuguesa

Opiniones y consejos sobre el arte de narrar

***
contos mínimos e outras insignificâncias

Augusto Monterroso
Mário Henrique Leiria
Julio Cortazar
Raúl Brasca
pequenos contos
contos zen
greguerias
Vicente Huidobro
estórias sufi
provérbios árabes

***
primos do blog

primeiros mil microcontos
ene problemas
microcontos da zezé
microcontos do carlos
a casa das 1000 portas
letra minúscula

***
outros blogs


o outro mil mais uma
A Contadora
Azul cobalto
Blog de esquerda
blogo
Blogs em.pt
bomba inteligente
bloco de notas
contra a ilusao
cruzes canhoto
Digitalis
e-pistolas
escrita
esquissos
ghostboy
J.K's Diary
Eu-Luis Rijo
Fumacas
Lucubrando
mar portuguez
noite escura
outro lado da lua
paragem de autocarro
pensamentos imperfeitos
pensar enlouquece
polzonoff
PortalC.Tellez
socially incorrect
telepatia
Templo de Atena
:totentanz:
um dia gnostico
vastuleC

fabio Ulanin
eugeniainthemeadow
rua da judiaria
Ma-Shamba
escorrega...
elasticidade
***



Powered by Blogger