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mil e uma pequenas histórias
31.1.05
 

783

Leu um novo livro e tornou-se alguém que não era antes. No entanto, não tivesse sido ele mesmo o primeiro a anunciar aos quatro ventos a mudança e tal até teria passado completamente em branco. Por essa altura já estavam todos habituados ao fenómeno e já ninguém lhe ligava nenhuma.

 
 

782

Ele estava gelado, mas ao sol quase se sentia quente. Caminhou um pouco mais, e o contraste entre o frio e o calor acentuou-se no seu corpo e na sua mente, até ao ponto de já não saber já muito bem como se sentia. Foi então que pensou que o mesmo se passava consigo em relação à tristeza e à alegria, pois elas se confundiam em si de tal forma que lhe custava muitas vezes dizer se estava triste ou alegre. Era afinal uma daquelas raras pessoas que aceitam as coisas como elas na verdade são, completamente únicas e paradoxais.

 
29.1.05
 

780 (SMS)

Estou só, pensou, e logo acrescentou com um sorriso, sinto-me só; pois tinha há muito descoberto que nunca se está só quando nos sentimos parte de um todo.

781 (SMS)

Come-me toda, pediu-lhe, e ele assim fez, de tal forma que durante muito tempo nada mais comeu.

 
28.1.05
 

779

Naquele dia tudo lhe pareceu igual, mas ele sentia-se diferente, mais calmo, mais desligado e no entanto mais perto de tudo que o rodeava. Sentou-se, respirou profundamente, e quase adormeceu. Era mais um dia que começava. Era um novo começo.

 
26.1.05
 

778

A princípio ainda julgou que tinha estado em lugares estranhos e nunca vistos, mas logo percebeu que não fora nada disso, antes deambulara pelos mesmo locais de sempre com novos olhares e consciências. Aprendera muito e logo tudo esquecera, mas era agora um homem novo, e disso tinha plena consciência.
 
13.1.05
 

777

Tempos houve em que escrevia como respirava, sem quase ter consciência. É claro que às vezes sabia muito bem o que estava a fazer, mas era como se inspirasse e expirasse profundamente, escrevia a plenos pulmões. Agora é diferente, tenho medo, aprendi que escrever é como respirar: assim que começamos não o podemos deixar de fazer. E o que escrevemos é sempre impuro, rarefeito. Escrevo com dificuldade, com os pulmões dilacerados. Tempos houve em que não escrevia e não pensava em escrever. Então respirava como escrevia, sem quase ter consciência. Agora escrevo como respiro e respiro como escrevo, a custo.
 
 

776 (SMS)

Quando à sua frente só via obstáculos, fechava os olhos e continuava. Uns diziam que era cobardia, outros, coragem, mas para ele era a única forma de avançar.

 
12.1.05
 

775

Deu um passo à frente e, para seu espanto, logo se seguiram dois atrás. Tentou ainda muitas vezes, mas o resultado foi sempre o mesmo. Na verdade, estava cada vez mais longe de onde queria chegar. Foi então que decidiu virar costas ao problema, e seguir em frente sem hesitar.

 
 

774 (SMS)

De manhã a temperatura baixara, o céu estava muito nublado, o vento era fraco e soprava moderado. Decidiu então nunca mais ler a previsão meteorológica.

 
10.1.05
 

773

Um homem andava muito preocupado porque em ____ o que falava havia cada vez mais silêncios. "___ de haver uma cura", disseram todos os especialistas que consultou, mas nenhum encontrou _______, e um dia ele nada mais conseguiu dizer. Foi só então que percebeu que mais vale estar calado quando pouco ou nada se tem para dizer. Tudo tem solução.

 
 

772

Acordou decidido a mudar a sua vida, mas o que nele era certeza logo se converteu em dúvida, e ficou a pensar se valeria a pena, que era afinal o que sempre fazia. Dito isto, o que esta história precisa é de uma moral adequada.

Aqui está: assim como as respostas dependem das perguntas, também o pensamento depende da acção.

 
8.1.05
 

771

Ele propôs-lhe casamento e ela pediu-lhe um tempo para pensar. Foi o melhor que lhes podia acontecer, ele reflectiu e voltou com a proposta atrás, poupando-os assim a um mais que incerto casamento e a um mais que certo divórcio. Tivesse ela dito que não e de certeza estariam agora casados. Tivesse ela dito que sim e nem sei o que aconteceria.

Nota do autor: "Não, não me enganei, onde está não, é não, e onde está sim, é sim!
 
7.1.05
 

770 (SMS)

Era do contra, e a tal ponto o era que há muito deixara de ser a favor de coisa alguma.

 
6.1.05
  [INTERVALO]

Se chamarmos “ultra curto” a qualquer conto que não ultrapasse as 200 palavras, então todas as pequenas histórias deste blogue estão nessa categoria. Contam-se pelos dedos de uma mão as que foram além das 100 palavras, seu tamanho de referência, e nos últimos tempos encolheram de tal modo que muitas vezes não ultrapassam os 160 caracteres (incluindo espaços).

A brevidade extrema, sua característica mais que evidente, vem acompanhada de uma necessária ambiguidade semântica, que se torna tanto mais óbvia quanto menor é a história, exigindo uma participação activa do leitor.

A ambiguidade destas pequenas histórias estende-se até à sua própria natureza, o que levará o leitor a perguntar às vezes se o que lê é ou não uma história. Pois bem, só ele pode responder a essa pergunta, assim como só ele as pode completar.

Que fique claro que o leitor destas pequenas histórias deve contá-las também, acrescentando-lhes um ponto, ou mais; só assim elas estarão completas.

 
 

769 (SMS)

“Não desesperem por não terem respostas, muito pior é não ter perguntas”, disse ele, e todos os que o ouviram se interrogaram.

 
5.1.05
 

768 (SMS)
Pode repetir?

Uma certa palavra sofria de excessiva polissemia, e a sua condição veio a agravar-se de tal forma que deixou de ter qualquer significado.

 
 

767

Só morremos porque estamos vivos, sem dúvida, mas será isso suficiente para afirmar que a vida e a morte são inseparáveis? Ele acreditava piamente que sim, e também que o positivo e o negativo só existem juntos. Digam o que disserem, têm de concordar que era um homem muito simples na sua complexidade. Ou vice-versa.
 
3.1.05
 

766 (SMS) Do imponderável

Decidiram separar-se mas deram ainda mais um tempo; afinal o dia seguinte era feriado e estava tudo fechado.

 
2.1.05
 

765 (SMS)

Era uma história de uma extrema brevidade. Ainda mal começara e já tinha terminado. Tal e qual esta.
 



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Luís Ene

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