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Tempos houve em que escrevia como respirava, sem quase ter consciência. É claro que às vezes sabia muito bem o que estava a fazer, mas era como se inspirasse e expirasse profundamente, escrevia a plenos pulmões. Agora é diferente, tenho medo, aprendi que escrever é como respirar: assim que começamos não o podemos deixar de fazer. E o que escrevemos é sempre impuro, rarefeito. Escrevo com dificuldade, com os pulmões dilacerados. Tempos houve em que não escrevia e não pensava em escrever. Então respirava como escrevia, sem quase ter consciência. Agora escrevo como respiro e respiro como escrevo, a custo.