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Quando não ser está completamente fora de questão
Pergunto quem sou
e respondo
pai, escritor, libertário
estúpido, generoso, ingénuo
completo idiota de meia-idade
com o cabelo branco e peso a mais
muito perto e muito longe de
alguma sabedoria
algum equilíbrio.
Elimino as respostas
uma a uma
na certeza de que o que ficar
o que não conseguir riscar
serei eu, e durante algum tempo assim faço
mas hesito, encho-me de medo
de nada restar a não ser o vazio
de nada ser
e desisto.
Mas quando me sento para escrever
olho o ecrã em branco
onde as palavras aparecerão
uma a uma
e pergunto-me se o vazio será
assim tão terrível
tão assustador.
Talvez a pergunta quem sou
não precise de resposta
talvez não peça
resposta alguma
Sei lá!
Sei lá quem sou!
Sou.