
584
Deambulava um homem pelo jardim, pensativo, quando disse em voz alta a si mesmo:
— Sou aquilo que faço ou faço aquilo que sou? Quem me dera compreender! Quem me dera!
Uma formiga que por ali passava, carregando sem esforço aparente um peso muitas vezes superior ao seu, respondeu-lhe desta forma:
— Se fizeres aquilo que és, serás aquilo que fizeste. É tão simples como isto.
O homem olhou-a, espantado, e logo a esmagou displicentemente, com o pé direito, e afastou-se dali repetindo a pergunta inicial:
— Sou aquilo que faço ou faço aquilo que sou?
E desta vez não obteve qualquer resposta.
585
Ia um homem andando despreocupado, quando um lagarto se lhe atravessou à frente e quase o fazia trocar os pés e cair.
— Lagarto duma figa, vê se tomas atenção por onde andas!
Isto gritou o homem, bem alto, mas o lagarto nem sequer se virou para trás, e continuou ligeiro o seu caminho.
— Volta aqui! Volta aqui que te ensino a ter maneiras!
Isto gritou o homem, de novo, mas o lagarto já ia bem longe. E foi o melhor que fez, pois há muito que os lagartos aprenderam que nunca se deve parar para escutar as palavras dos homens.