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Existe uma certa volúpia no aborrecimento, doce angústia que nos paralisa e devora pouco a pouco sem nunca acabar. São dias e dias em que nada se faz a não ser pensar no nada que não se faz, numa imobilidade trágica mas ainda satisfeita de quem afasta a morte a ela se entregando às prestações. Assim viveu este homem que aqui se evoca, um homem que nada fez a não ser comprazer-se no seu nada fazer. Dizia-se decadente, dizia-se sábio, mas talvez fosse apenas muito preguiçoso e um tudo-nada lerdo. A sua vida é certamente um exemplo a (não) seguir.