UM PAÍS ENTRE O BOM E O MAU
471.
Era um país medíocre, pequenino e de vistas curtas, envergonhado e boçal, e todos os que nele viviam sabiam que assim era, embora não conseguissem perceber o porquê desse estado de coisas, pois a verdade é que eles não eram assim, mas por mais que se esforçassem para melhorar a situação, não obtinham qualquer resultado positivo, antes pelo contrário. Desesperados, concluíram afinal o que já há muito suspeitavam, que a culpa era do país, obstinado em manter-se igual a si mesmo apesar dos seus esforços. Mas o problema persistia: o que se faz a um país que não quer mudar?
472.
Será um país medíocre um país de medíocres? Ele achava que não, e não era porque se sentisse muito especial, mas medíocre também não era, e ainda que o fosse, sempre podia mudar, que vontade não lhe faltava. Só não percebia era aquele país em que ninguém era responsável e todos os outros eram culpados, ou talvez nem fosse isso, ele é que já não sabia explicar o que se passava, e o pior é que desconfiava que já ninguém o era capaz de fazer. E ainda que se percebesse qual era o mal, será que ainda haveria uma cura?
473.
“Ninguém é medíocre, os desempenhos é que o são”, isto disse certo país a si mesmo pela enésima vez, e depois voltou para o sofá e ficou a ver televisão e a beber cerveja até que adormeceu. Quando acordou já se tinha esquecido de tudo, e voltou à sua rotina de todos os dias, a mesma que há muito ele sabia obter os mesmos resultados medíocres de sempre. E como nada mudou no que fazia, também nada mudou em si, e continuou a ser quem era: um país com um desempenho medíocre. Mas a verdade é que já estava habituado!