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A literatura é a minha religião, disse o homem, e não sentiu em si qualquer necessidade de invocar um ou mais deuses. E, como tantas outras vezes, sentiu que aquela era uma afirmação que tudo explicava sem nada explicar, pairando inútil entre o sonho e a realidade. Repetiu a medo a frase, e, por breves instantes, como acontecia nessas ocasiões, viu as suas palavras riscarem de sonho a realidade, como o vôo errante da borboleta de asas tingidas de azul vibrante que sempre recordava, acordado ou a dormir. [A moral desta pequena história é paradoxal: não acreditar é também acreditar.],