435.
Flan, o doce
Flan, o pudim, há muito que desejava completar-se, tornar-se um só, único e inconfundível, afastando assim de vez a intranquilidade do seu ser. Todos achavam que a sua busca chegara ao fim, faltava-lhe apenas escolher entre a flamejante beleza da cereja e a rugosa sabedoria da ameixa seca, mas a verdade é que por mais que se esforçasse não se decidia: hesitava, hesitava sempre, estremecendo sem parar, que era a sua forma mais profunda de pensamento. É claro que acabou por ter a sorte dos mais indecisos, veio a vida e engoliu-o com deleite, só lhe deixando os olhinhos para chorar.