397. A vida e a morte
O dia chegou de repente, e o homem que ainda há pouco olhara a noite surpreendeu-se com a claridade nascente. Dia a dia atravessara a vida alheado do tempo, fosse qual fosse, fosse o que fosse, mas aquela súbita consciência de mais um dia perturbou-o profundamente. Não tinha os seus dias contados, evitara-o mesmo com todas as suas forças, o que era a sua forma ingénua de afirmar a vida e negar a morte, mas não pôde fugir-lhe assim como ninguém escapa a mais um dia. Morreu no exacto momento em que teve afinal a súbita certeza de estar vivo.