LIÇÕES EM SI
349.
Depois de um longo e fastidioso período de espera, o mestre aceitou-o finalmente como aluno. Nos anos que se seguiram, aprendeu a estar em silêncio e a sorrir, e mais nada lhe pareceu tão importante quanto isso. Quando o mestre morreu, tomou o seu lugar.
350.
Percebeu de repente que nada mais era do que uma ténue voz, e que para a ouvir bastava calar as outras vozes que nada mais eram do que ruído. A voz que ficava quando todas as outras se calavam, era afinal ele, mas mal conseguia isso e logo todas as outras vozes voltavam num alarido.
351.
Tudo o que não dizia era afinal tudo o que queria dizer mas não conseguia, pois mal o dizia logo deixava de ser aquilo que queria. Se ficasse calado e escutasse com atenção, conseguia ouvir o que queria dizer, ao longe, muito ao longe, não mais do que isso. [Talvez a verdade sobre nós mesmos seja pessoal e intransmissível, é o que se pode concluir.]
352.
Certo dia um homem muito velho e muito sábio concluiu que quanto menos pensava sobre o seu ser mais se aproximava dele, e quanto mais se aproximava dele menos vontade tinha de pensar sobre ele. Amava vividamente os paradoxos e por isso não admira que a proximidade da morte lhe prolongasse a vida, deixando-o ao mesmo tempo triste e feliz. Era assim a sua natureza e ele nada podia fazer.
353.
Era uma vez um homem que adormecera em todas aulas em que estivera e nunca aprendera uma lição que fosse, a não ser que não precisava de mestres que nada sabem a não ser o que repetem sem descanso. Ele sabia muito pouco, quase nada, e na verdade não queria saber mais, tinha medo de se esquecer de quem era, e isso era tudo, mas mesmo tudo, o que lhe interessava saber, e nada mais.