PERGUNTAS E RESPOSTAS
323. (à Natália)
Sentia a mente vazia e a alma transbordante, ou talvez fosse ao contrário, a mente transbordante e a alma vazia, mas não perdeu nem um instante a resolver esta dúvida, pois sabia muito bem que o mundo assenta em dinâmicos paradoxos, e limitou-se a expirar e a inspirar profundamente até que o equilíbrio se restabelecesse em si . Tinha sido uma longa caminhada sem perguntas ou respostas essenciais para que estragasse tudo agora. [A moral desta pequena história é deveras inquietante: a verdade está entre a pergunta e a resposta.]
324. (ao Alexandre)
Quando o cubo negro surgiu do nada, no centro do jardim das palmeiras em frente à capela, ninguém pareceu dar por ele. Mas, pouco a pouco, sobre ele se contaram mil e uma histórias, todas elas diferentes e maravilhosas. Um belo dia desapareceu, tão misteriosamente como aparecera, e outras tantas histórias foram contadas. O seu enigma ficou no entanto sem resposta até hoje, o que afinal sempre acontece com os verdadeiros enigmas, por mais perguntas e respostas lhes sejam oferecidas.