APARVALHADAS
340.
Há muito tempo já que os ratos não têm medo dos gatos, e que estes, por sua vez, não os comem, mas isto não quer dizer que sejam amigos. Na verdade, ainda está por descobrir se os ratos deixaram de ter medo dos gatos porque estes os deixaram de comer, ou se os gatos deixaram de comer os ratos porque estes deixaram de ter medo deles. Seja como for, não há notícia de um rato ter comido um gato, o que não deixaria de ser um desenvolvimento possível nos tempos que correm. Vamos todos esperar e ver o que acontece.
341.
Era um dia igual aos outros, foi o que ele pensou, mas muitas coisas extraordinárias estavam para acontecer. E tão extraordinárias e maravilhosas foram que seriam precisos muitos dias para tão só as resumir. Ele não deu por nada, a sua previsão cumpriu-se, foi apenas mais um dia que passou.
342.
Estava na hora de regressar, e foi isso que ele fez. Só quando chegou ao ponto de partida é que percebeu que não tinha afinal regressado, mas iniciara uma nova viagem. [A moral desta história é abstrusa: podemos regressar ao ponto de partida mas não ao ponto de onde partimos.]