e
Nigmáticas
318.
O mestre disse certo dia com um sorriso na alma: “Antes de mais nada é preciso encontrar um centro, o nosso próprio centro, depois bastará apenas que o orbitemos, por mais excêntricas e inconstantes que sejam as trajectórias. Nada mais fácil.” [O que o mestre não disse, mas o seu sorriso bem revelou, é que aquilo que nos prende é a maior parte das vezes o mesmo que nos liberta.]
319.
O mestre disse com rispidez a um aluno que lhe pedia orientação espiritual: “Ó pá, vai mas é cagar à mata!” Todos os presentes riram a bom rir, e nunca as gargalhadas lhes haviam soado tão sérias e tão profundas. O interpelado é que não gostou mesmo nada, mas percebeu a mensagem, e defendeu-a a partir daí com paixão. [O que dizemos nunca será ouvido se não for sentido primeiro.]
320.
O mestre disse na sua voz fina e sumida: “A maior parte das vezes devemos calar-nos. Nada perturba mais do que as palavras, mesmo as mais sábias e bem intencionadas.” A este discurso seguiu-se uma acalorada discussão que parecia não ter fim. Na verdade, só terminou quando o mestre perdeu por completo a paciência e gritou três vezes por silêncio. Os alunos ficaram tão admirados que não falaram durante dias.