321. Contradição
Um homem sentiu certo dia que tinha a capacidade de saborear as palavras, de as cheirar e de as tocar como se fossem simples objectos que se oferecessem na totalidade aos seus sentidos. No entanto, logo descobriu que na verdade as palavras já nada lhe diziam, ou então, e o resultado era o mesmo, estava surdo à sua magia. O certo é que ouvia as palavras mas não as compreendia, olhava-as mas não as decifrava. As palavras tinham-se tornado portas fechadas que só levavam a si mesmas, pensou então, e o leve agridoce dessa metáfora perdurou por muito tempo nele.