OBVIAMENTE…
277.
Era uma vez um homem que ia a ler e a andar, não viu o degrau, estatelou-se ao comprido no chão. Nada o faria prever, mas o certo é que bateu com a cabeça num paralelepípedo saliente e morreu sem mais. [A moral desta história é óbvia: há leituras perigosas.]
278.
Era um indivíduo tão marginal que não se integrava em grupo algum, por mais à margem estivesse. Levava uma vida solitária e muito aborrecida, mas era a vida dele; era isto que ele dizia a si mesmo, pois não tinha mais a quem o dizer. [A moral desta história é óbvia: se nos afastarmos dos outros acabamos a falar sozinhos.]
279.
O homem tentou ler o livro que trouxera consigo. Depois esforçou-se por ouvir a música. Mas não conseguia sair de si e ser outra coisa se não ele mesmo. Como posso ser sempre tão insuportavelmente eu? — perguntou a si mesmo. Cada um é como é! — respondeu rápido, e riu pela primeira naquele dia, esquecido por momentos de si. [A moral desta história é óbvia: Rir é descansar de nós mesmos.]
280.
O homem já não compreendia de todo o seu país. O número de presos continuava a aumentar enquanto a taxa de criminalidade se mantinha baixa! Pagava cada vez mais impostos e recebia os mesmos serviços de má qualidade de sempre! E nada, mas mesmo nada parecia fazer sentido, pois todos tinham razão mesmo quando estavam em total desacordo! Isto trazia-o muito aperreado, mas um dia percebeu afinal:
o país estava pedrado. Ficou muito aliviado, chegara a pensar que enlouquecera. [A moral desta história é óbvia: se não percebes o mundo, não te atormentes, provavelmente o problema não está em ti.]