MILAGRES E HOMENS SANTOS
262.
Os discípulos de Bagham Varareschi juraram ter visto, no exacto momento em que ele morreu, uma bola de fogo sair da sua boca e subir direito ao céu. O célebre médico e investigador inglês, Lord Whodonit, observou o cadáver e atribuiu a morte a uma formidável crise gástrica, causada por uma refeição excessivamente condimentada. Seja como for, o médico veio a morrer nessa mesma noite, vítima de um incêndio que deflagrou no seu quarto. Os amigos do médico recordaram com tristeza o seu hábito de fumar e beber na cama, mas os discípulos do mestre Bagham riram dias a fio.
263.
Simeão, o Estilista, viveu cerca de cinquenta anos no topo de uma coluna esperando um sinal. Cora, a Modelo, esperou pacientemente na base da coluna que ele descesse. Foi em vão, um dia Simeão ascendeu ao céu e deixou-a ali, sem mais nada para fazer se não ir-se embora também.
264.
Diz-se que Shankharacharya, um homem santo, era capaz de rachar uma montanha com um único olhar, bastando para o efeito chamarem-no pelo nome e pedirem-lhe com respeito que o fizesse. Mas a verdade é que não há memória de alguém ter conseguido pronunciar o seu nome sem desatar a rir às gargalhadas. Felizmente para eles, eram pessoas e não montanhas.
265.
Um eremita sentou-se um dia numa pedra que se erguia solitária e esperou, esperou, e esperou, até que ambos se confundiram. Muitos anos passaram e do antigo eremita nada ficou, mas a pedra ainda o guarda no coração, e muitos dizem até, que de mil em mil anos é possível ouvi-la gritar o seu nome.
266.
Um certo eremita abandonou um dia o mundo e isolou-se no coração da floresta. Aí permaneceu, de tal forma imóvel e por tanto tempo, que seria impossível distingui-lo das outras árvores, não fosse o facto inexplicável de, no raio de vários quilómetros, todas elas lhe terem voltado ostensivamente as costas.