TER E SER (à Sue)
241. Uma história muito óbvia
Um homem resolveu perguntar a si mesmo o que tinha, e a resposta foi deveras surpreendente: não tinha ideias, não tinha vontade e não tinha amor por ninguém. Percebeu que tinha pouco, muito pouco, essa era a verdade, mas, apesar disso, descobriu que podia pensar muito, querer muito e amar muito. Acreditou então que quanto menos tivesse mais poderia ser.
242. Uma história muito vulgar
O que fazemos já pouco conta, o que importa hoje não é aquilo que somos, mas aquilo que parecemos ser. As atitudes são, cada vez mais, simples meios para alcançar fins, na verdade um único fim, o prazer total e solitário. Foram estas as últimas palavras do cantor do momento, antes de morrer novo e belo. Pelo menos foi o que se disse. Fosse como fosse, a verdade é que as vendas subiram em flecha.
243. Uma história muito estúpida
Era um homem muito infeliz e atormentado, até ao dia em que deixou de ter problemas e passou apenas a preocupar-se. Foi uma transformação inesperada e súbita e não a compreendeu muito bem, mas isso pouco importava, sentia-se leve, irrelevante e estupidamente livre. [Esta história não é exemplo para ninguém e dela cada um poderá tirar o proveito que quiser.]