PALAVRAS (à Heloísa)
247. Ler
Virou e revirou o livro entre as mãos, com uma persistência e lentidão de carícia, o olhar toldado de dourado. Só depois o abriu e folheou sem pressas, de trás para diante, o olhar aceso de curiosidade e espanto. Finalmente, leu e releu o livro com amor crescente. Por mais estranho que pareça, a verdade é que nunca colocou a si mesmo uma pergunta óbvia: Quem, no acto de leitura, experimenta o prazer mais intenso? O leitor ou o livro?
248. Falar
Não tenho nada contra falar, podemos falar de coisas muito importantes, como por exemplo literatura, política e amor, mas é de longe preferível fazer, pois só no fazer as perguntas e as respostas ganham verdadeiro sentido. Assim falou um dia certo guru aos seus alunos, e todos concordaram em silêncio, sobretudo os que, e foram muitos, ainda ele mal se calara e já tinham esquecido as suas palavras. [Escusado acrescentar que o melhor aluno é aquele que supera o mestre.]