Chuva terapêutica (escrita a pedido...)
Gosta de tomar banho de chuveiro. E não pensem que esta minha afirmação quer dizer que gosta de poupar tempo ou água. Não, não é nada disso, apesar de ser verdade que tem uma vida ocupada e algumas preocupações ecológicas. Gosta de tomar duche porque nada lhe dá uma tamanha sensação de plenitude. Está mesmo convencida que é uma das coisas melhores que há na vida. Quando era pequena gostava de andar e dançar à chuva, mas a água era quase sempre fria, e a intensidade da sua queda imprevisível: tanto podia ser leve e passageira ou forte e persistente. E depois, confessa, adorava sentir a água na sua pele nua. E não era fácil iludir a vigilância dos pais, nem afastar a vergonha. Entretanto cresceu, e continua a gostar de andar e dançar à chuva, continua a gostar de sentir a água intensa e cálida sobre o seu ser despido. Vive sozinha. Trabalha. É independente. Mas não sai para a rua debaixo de uma chuva qualquer. E muito menos nua. Sim, porque se ainda não tinham percebido, o chuveiro é o lugar onde ela é ela mesma, completamente liberta do fardo do esforço de ser, totalmente calma e confiante nos braços ingénuos do puro prazer. [E a moral desta história só pode ser uma: nunca escrevas sobre chuveiros quando podes ir tomar um duche.]