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mil e uma pequenas histórias
14.2.03
 
161.

Deitou-se loura e acordou morena, ou talvez tenha sido ao contrário, isso não interessa, o importante é que acordou diferente, mudada. Ficou muito aflita e preocupada, as pessoas iam notar e comentar a sua transformação. O que lhes diria? Que explicação avançaria? E o que ia vestir? O seu guarda-roupa de nada lhe servia agora! Que desgraça!! Tinha mudado, sim, tinha mudado, mas no seu interior permanecia a mesma pessoa.

160.

A última vez que o vi não cortava ele o cabelo e a barba há muitos anos, talvez há tantos quantos os que não nos víamos, e eram mesmo muitos. Apesar de ser ainda jovem e ter herdado do pai o próspero negócio da família, parecia um velho vagabundo. Para meu espanto, reconheceu-me de imediato. Trocámos cumprimentos de circunstância e seguimos cada um o seu caminho. Agora soube que morreu. E que tinha cortado o cabelo. Foi assim que me contaram. Morreu. Tinha cortado o cabelo. Não quis saber mais nada, mas fiquei a pensar se teria também cortado a barba e, sabe-se lá, passado a andar de fato e gravata. Há coisas que é melhor não saber, só dessa forma todas as possibilidades se podem manter em aberto.

159.

A minha filha anda muito entusiasmada com tudo o que tem a ver com a escrita e com a leitura. Um destes dias, perguntou-me se eu conhecia a família do bê. Fiquei surpreso e pensativo. [Talvez o abecedário fosse uma família, ou mesmo cada palavra por si mesma o fosse, com excepção, é claro, das raras palavras solitárias. Seguindo este raciocínio pude encontrar casais, famílias reduzidas, numerosas, unidas e divididas.] Mas já ela me explicava na sua voz pequena e álacre: bá,bé,bi,bó,bu. É a família do bê. Gosto muito dela.
 



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Luís Ene

©2002/5

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