151.
O homem sentou-se no banco corrido com a cabeça descaída, o queixo quase tocando no peito, as mãos a agarrar os joelhos, e os olhos semicerrados. Era magro, tinha já ultrapassado os cinquenta anos, e adivinhava-se nele uma elegância negligente que devia ser a sua característica dominante. Onde quer que estivesse seria sempre ele. O juiz olhou-o do alto e ordenou ao réu que se levantasse. A voz soou como se não pertencesse a ninguém da sala, tão estranhas foram as palavras e a imobilidade do homem: Levante-se você, seu filho da puta! — foi a resposta. O magistrado ergueu-se de um salto e debruçou-se para o homem que continuava sentado, inalterado, a não ser um brando sorriso que lhe brilhava agora nos olhos da alma.