138.
O homem estava sentado na avenida defronte ao mar revolto. Estava imóvel, alheio ao vento e à chuva, alheio também ao mar, completamente perdido dentro de si. Se o olhassem, se ali passasse alguém, facilmente o confundiriam com uma homenagem de pedra a algum poeta local. Se era um poeta, não sei, apenas o avistei ao longe e, agora que penso nisso, era perturbadora a sua quietude, nem mesmo o cabelo e a roupa se agitavam, mas nem por um momento duvidei da sua humanidade. Era um homem, disso tenho a certeza, um homem como eu, perdido dentro de si.