106.
Todos sabem que o pato é um animal completo, ao mesmo tempo aquático e gramático, características que lhe permitem viver na água e exprimir-se com toda a elegância e desenvoltura. Mas nem sempre foi assim, durante muito tempo os patos tinham um medo horrível da água, e da gramática então nem se fala. Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas existem várias histórias sobre o assunto. Infelizmente desconheço-as todas e sou completamente incapaz de inventar seja o que for. Faz muito tempo que só avisto aquela ave rara à refeição, quando é ao mesmo tempo prática e aromática.
105.
A pequena barata voadora gostava muito de ouvir as histórias que a avó barata lhe contava quando regressava a casa, a meio da noite, a cair de bêbeda. Havia sempre baratas fortes e corajosas e muitos, muitos homens esborrachados. Eram histórias maravilhosas que a enchiam de uma enorme satisfação e orgulho. Dormia sempre muito melhor e tinha sonhos radioactivos em que as baratas governavam o planeta. É sabido que as histórias favorecem o desenvolvimento da personalidade e fortalecem a moral. Foi o que aconteceu com a pequena barata: cresceu e tornou-se uma barata responsável que nunca se mete em confusões.
104.
“No tempo em que os animais falavam com os homens como era o mundo?”, perguntou a jovem raposa à sua mãe. “Os animais sempre falaram, mas os homens nunca os escutaram verdadeiramente”, disse a mãe, “a não ser alguns, muito poucos, e sempre cada vez menos. E tanto que tínhamos para lhes ensinar!”. A raposa era um mamífero carnívoro, da família dos canídeos, muito ágil, esperta e manhosa, de pêlo forte e longo, focinho pontiagudo e cauda comprida, que se alimentava de aves e pequenos mamíferos; pode ainda ser encontrada nas antigas histórias, em especial nas de proveito e exemplo.