97.
É uma história sem pés nem cabeça, disse o homem, zangado, ultrajado. Sem pés porque está irremediavelmente ancorada, não vai a lado nenhum, e sem cabeça porque é completamente disparatada, não faz qualquer sentido. Sem pés nem cabeça, repetiu. E tudo indicava que não se ia calar. A história, a princípio, não gostou nada das afirmações do homem, e até teve vontade de lhe dar um bom par de estalos, mas depois acalmou-se e decidiu não ficar ali a ouvi-lo. Foi-se embora, deixando o homem a falar sozinho. Afinal, era, sem sombra de dúvida, uma história com pés e cabeça.