88.
Sentiu, pela primeira vez, uma imensa vontade de escrever, mas não tinha a mínima ideia de como lhe podia dar forma. Talvez uma carta para um amigo, mas não os tinha, talvez uma poesia de amor, mas não estava apaixonado, talvez um pequeno conto, mas ninguém o leria, talvez o seu testamento, mas não tinha quaisquer bens. Acabou por nada escrever, quando podia ter escrito alguma coisa de extraordinário e perene. Mais tarde, ultrapassado aquele momento, acabou por produzir uma obra extensa e bem recebida pela crítica, mas nunca mais sentiu aquela vontade imensa de escrever. São coisas que acontecem.