<$BlogRSDURL$>
mil e uma pequenas histórias
5.11.02
 
77.

Penteou o cabelo branco e crespo, cofiou a barba, também branca, também crespa, e sorriu ao espelho, ajeitando ao mesmo tempo a veste vermelha ao corpo balofo. Por último, colocou o barrete vermelho debruado a branco, a alva bola felpuda caindo para a direita, como sempre usava, tradicional. Bebeu um trago longo e ardente da garrafa quase vazia , escondeu-a de novo no saco das prendas, e voltou para o seu posto, para mais um turno a aturar meninos e meninas com febre de presentes caros. Era a isto que estava reduzido, Pai Natal de centro comercial, Pai Natal de brincadeira, ele, sim ele, o verdadeiro Pai Natal, o da lenda, o de todas as histórias, de todos os Natais, o de antes da explosão consumista, da globalização, de todos os avanços. Quando uma criança, insolente, lhe afirmou, convicta, que ele não era o verdadeiro Pai Natal, perdeu as estribeiras e esbofeteou-a. Foi imediatamente despedido e o seu comportamento indecoroso comunicado ao sindicato dos Pais Natais. Nunca mais voltou a trabalhar, em Natal nenhum. A sorte foi que lhe saiu a Lotaria, a do Natal, claro está, vejam lá a ironia do destino.

76.

Primeiro, emagreceu vinte quilos, à custa de muita dieta e exercício; depois, cortou a barba e pintou o cabelo de louro; por último, vestiu-se todo de negro: polo justo, fato Armani, ténis Nike. Ficou irreconhecível; quando o viram os gnomos assustaram-se e as renas, essas, fugiram apavoradas. Ninguém diria que aquele era o Pai Natal verdadeiro; um ano depois, no entanto, ele tinha ganho todos os processos legais instaurados com vista ao pleno reconhecimento dos seus direitos de autor, e estava rico, muito rico. Comprou um castelo em França e uma quinta na Argentina, um jacto particular e um iate, e outras coisas mais, muitas outras coisas. Dizem, as más línguas, que, às vezes, ainda se veste de Pai Natal e ri a sua gargalhada roufenha. Oh! oh!, oh!, que rica vida.
 



***
... a ficção no seu mínimo...

Luís Ene

©2002/5

***
Faça-se ouvir:
envie-me um e-mail
deixe a sua opinião

***
em papel


clique para comprar

***
uma entrevista

uma crítica
***
"(...) desejaria reunir uma colecção de contos de uma única frase, ou de uma só linha, se possível."
Italo Calvino - seis propostas para o próximo milénio
***

histórias por tema

* ler e escrever *
* o zen à janela *
* o amor é o que é *
* da brevidade *
* fabulário *
* viva a morte *

***

todas as histórias
08.2002 / 09.2002 / 10.2002 / 11.2002 / 12.2002 / 01.2003 / 02.2003 / 03.2003 / 04.2003 / 05.2003 / 06.2003 / 07.2003 / 08.2003 / 09.2003 / 10.2003 / 11.2003 / 12.2003 / 01.2004 / 02.2004 / 03.2004 / 04.2004 / 05.2004 / 06.2004 / 07.2004 / 08.2004 / 09.2004 / 10.2004 / 11.2004 / 12.2004 / 01.2005 / 02.2005 / 03.2005 / 04.2005 / 05.2005 / 06.2005 / 07.2005 /

***
utilidades

língua portuguesa

literatura portuguesa

Opiniones y consejos sobre el arte de narrar

***
contos mínimos e outras insignificâncias

Augusto Monterroso
Mário Henrique Leiria
Julio Cortazar
Raúl Brasca
pequenos contos
contos zen
greguerias
Vicente Huidobro
estórias sufi
provérbios árabes

***
primos do blog

primeiros mil microcontos
ene problemas
microcontos da zezé
microcontos do carlos
a casa das 1000 portas
letra minúscula

***
outros blogs


o outro mil mais uma
A Contadora
Azul cobalto
Blog de esquerda
blogo
Blogs em.pt
bomba inteligente
bloco de notas
contra a ilusao
cruzes canhoto
Digitalis
e-pistolas
escrita
esquissos
ghostboy
J.K's Diary
Eu-Luis Rijo
Fumacas
Lucubrando
mar portuguez
noite escura
outro lado da lua
paragem de autocarro
pensamentos imperfeitos
pensar enlouquece
polzonoff
PortalC.Tellez
socially incorrect
telepatia
Templo de Atena
:totentanz:
um dia gnostico
vastuleC

fabio Ulanin
eugeniainthemeadow
rua da judiaria
Ma-Shamba
escorrega...
elasticidade
***



Powered by Blogger