71.
Uma bala perdida atingiu mortalmente um homem de quarenta e cinco anos, em Loures. A bala estava adormecida dentro da arma. Há muito tempo que aí estava e nada parecia ter acontecido desde então. Despertou perturbada e a sua vigília fez-se trajectória. Da explosão da partida ao som cavo da chegada ia uma linha mortal. A bala antecipou o impacto, viu com nitidez o ponto letal onde a sua massa iria penetrar sem apelo o corpo do homem. Quis desviar-se, quis que entre si e o homem se erguesse um obstáculo intransponível, mas nada podia fazer; sentiu-se perdida, completamente perdida.