58.
Será que temos alma?- interrogou-se o médico legista. Na verdade, tanto lhe fazia, mas a visão dos corpos sem vida pedia-lhe sempre essa pergunta. Tinha visto muitos cadáveres mas nenhuma alma, o que lhe parecia natural. Se o cadáver é um corpo sem vida não seria nele que se encontraria uma alma. Talvez o que chamamos alma seja apenas a vida. Um corpo sem vida não teria pois alma. Serrou o crâneo do cadáver da jovem sem vida e, o cérebro a descoberto, espreitou para dentro da sua cabeça com uma expressão entre o curioso e o surpreendido. Nada estava ali que não devesse estar. Não sabia bem porquê mas esse facto trazia-lhe sempre um não sei quê de desilusão.