42.
Começou a escrever, com dois dedos, lentamente, olhando do teclado para o monitor, e de novo de um para outro, repetidamente, enquanto a frase crescia, acrescentando sentido ao acto, à vida. Parou por uns instantes, procurando um caminho, uma vereda, por onde seguir, prosseguir. Registou a indecisão e continuou, afinal o caminho faz-se caminhando, pensou, depois se verá, todos os caminhos vão dar a Roma, ou a outro lugar, ou a lugar nenhum, o que interessa mesmo é percorrer o caminho, único, à nossa medida. Recomeçou, persistente, alheio aos becos sem saída, aos sentidos únicos, numa via lenta mas segura, até chegar ao fim. Quando deu por ele, a morte espreitava-lhe sobre o ombro, lendo com interesse as últimas palavras. Esgueirou-se, sorrateiro, mas de nada lhe valeu, a morte estava atenta, tinha chegado ao fim.