23.
Era uma vez um rapaz que se sentava todos os dias à beira da estrada principal a ver passar os carros. Um pequeno muro era o seu observatório. Olhava a estrada com atenção durante longos períodos. Todos os dias o fazia. Sempre no mesmo local. O rapaz tornou-se homem, viveu a sua vida, envelheceu, mas continuou a sentar-se todos os dias à beira da estrada a ver passar os carros. Algumas vezes fazia-o noutros locais, mas apenas quando estava em viagem. Morreu vai agora fazer dez anos. O pequeno muro ainda lá está mas ninguém mais se sentou nele. Ainda ali passam carros, mas muito poucos.
22.
Era uma vez um velho que recordava. A todo o momento, recordava. Não fazia mais nada. O dia-a-dia era-lhe completamente indiferente. O futuro não existia. Vivia tão intensamente o passado que passou a ser apenas uma vaga recordação. Mas não foi esquecido. Alguns ainda se lembram dele. Vive nas suas memórias. Nada mudou.