2.
Na morte do velho filósofo os elogios fúnebres pareciam não ter fim. Dedicou toda a sua longa vida ao conhecimento de si mesmo – salientaram uns. Foi um homem sábio, possuidor de um conhecimento profundo – sublinharam outros. Abriu novos caminhos à filosofia humanista – afirmaram solenemente todos. Ninguém tinha dúvidas sobre ele, tinha sido um grande homem, o maior da sua geração, um exemplo para todos. Descerrada a lápide, coube ao morto a última palavra: “Fui não sei quem”, podia ler-se em letras dourados sobre o mármore negro, na estrita obediência da sua última vontade. A multidão dispersou, num silêncio embasbacado, e só duas horas depois o mais velho e mais sábio de todos eles conseguiu proferir em voz baixa: grande cabrão!