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Era uma vez um homem que mal abria a boca logo soltava palavras, e elas tanto podiam formar um belo poema como um elaborado insulto, ou vice-versa, ou nem uma coisa nem outra. A verdade é que ele não as controlava, e corria sempre o risco de dizer qualquer coisa menos o que queria dizer. Decidiu então nunca mais abrir a boca, e raras vezes o fez, a não ser para comer ou bocejar. Só no fim da vida quebrou o silêncio, para descobrir afinal que nada mudara: continuava a não dizer o queria mas apenas o que conseguia dizer.